quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Mais, da minha cidade

No dia (hoje) em que o sr. Siza Vieira recebeu das mãos da Rainha de Inglaterra, por delegação da Ordem dos Arquitectos inglesa , a Real Medalha de Ouro 2009, trago aqui um Díptico que nos fala ainda da sala de visitas da minha cidade, e que o referido senhor, criminosamente, em conjunto com o sr. Souto Moura, ajudou a descaracterizar. De certo, estes senhores não se aperceberam, ou não sabem, que a memória de um povo, de uma cidade, é feita daquilo que se constrói no nosso tempo, mas também daquilo que herdámos, daquilo que já cá estava quando aqui chegámos, e que pode ser beneficiado, nunca eliminado. Isto daria para um discurso extenso e corrosivo, mas hoje falta-me disposição. Portanto, adiante.



DÍPTICO

I
o nevoeiro desceu lentamente sobre a Avenida dos Aliados, envolveu a mulher branca e nua, e ficou as babar-se, a babar-se, beijando-lhe a cabeça, os seios e as coxas, só não lhe beijou também o sexo, porque ela não abre as pernas.

II
uma vez mais à porta da ateneia, a beata feia, convicta & monárquica, olhava sua magestade el-rei dom pedro quarto, como quem não quer a coisa, gulosamente, uma vez mais sem palavras nem obras, só em secretos pensamentos, despiu el-rei & quase perdeu a virgindade, dando à nobreza mais um real bastardo, gulosamente uma vez mais nos congregados (igreja dos) se confessou arrependida, uma vez mais foi perdoada, uma vez mais engoliu cristo, gulosamente.

Comentário:
I- A estátua da "Juventude", também conhecida por "Menina nua", construída em mármore e pedra lioz, retrata a inocência, a fragilidade e a juventude de uma criança, e é da autoria de mestre Henrique Moreira. O pedestal em que assenta a estátua é uma fonte com quatro bocas em forma de carranca, uma em cada face.

II- Já não entro na Ateneia há muito, muito tempo. Mas segundo julgo saber, as senhoras de que se fala acima (não as da altura em que por lá passava, mas as de agora, porque a casta renova-se) continuam a beber o seu "cházinho de parreira" (verde ou maduro não sei, deixemos o pormenor ao gosto de cada uma) em bonitas chávenas de porcelana. Que lhes saiba bem!

O texto do díptico foi retirado do número zero da revista (já defunta) pé de cabra, de 1992

1 comentário:

Anónimo disse...

Ok!
Lá vou eu fazer de "advogado do diabo".
Isto é o meu gosto de ver as coisas pelo outro lado. Pelo lado dos que acharam que tinham razão para fazerem as coisas como elas são.
Também não sou um particular defensor da Praça da Liberdade/Avenida dos Aliados como ela está, mas... percebo a filosofia.
Não é mais, do que devolver a Praça ás pessoas.
Quantas mais flores, canteiros e arbustos, que realmente podem ser belíssimos, menos as pessoas podem usufruir do espaço, porque, NÃO SE PODE ESTRAGAR.
A ideia é que seja um espaço amplo, aberto, onde se circule á vontade no meio, para apreciar todos os belos edifícios que circundam toda aquela área.
Uma coisa devem ser os jardins, como Serralves e outra coisa as Praças ex-libris de uma cidade.
Quem sou eu para defender o Siza Vieira, até é ridiculo. Mas alguma credibilidade temos que lhe dar.
Perceber o que ele queria..!
Agora, o que realmente está mal, o que falta naquele espaço, é movimento, animação, pessoas, para então se perceber o espaço. E isso, já não depende do Arquitecto. Depende dos politicos e das opções que se tomam.
Um exemplo muto mais absurdo é o Terreiro do Paço em Lisboa. Uma das Praças mais bonitas do Mundo, com arcadas maravilhosas e que está entregue ao Governo e seus Ministérios.
Quase todas as Grandes Praças do Mundo não são floridas, são sítios amplos, vivos, animados por pessoas e para as pessoas.
Agora...
A Praça das Flores...
Concordo perfeitamente com o urgente embelezamento da mesma com flores, àrvores e todo o género de arbustos. Para que justifique o nome e claro, por algum sentimentalismo.
É a minha, Praça.

Pedro.