sábado, 25 de abril de 2009

LIBERDADE



Para lembrar o dia 25 de Abril, dêmos lugar à poesia, uma das mais poderosas e eficazes armas que contribuíram para derrubar a ditadura.

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo

Sophia de Mello Breyner Andresen


LETRA PARA UM HINO

É
possível falar sem um nó na garganta
é possível amar sem que venham proibir
é possível correr sem que seja a fugir.
Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta.

É possível andar sem olhar para o chão
é possível viver sem que seja de rastos.
Os teus olhos nasceram para olhar os astros
se te apetece dizer não grita comigo: não

É possível viver de outro modo. É
possível transformares em arma a tua mão.
É possível o amor. É possível o pão.
É possível viver de pé.

Não te deixes murchar. Não deixes que te domem.
É possível viver sem fingir que se vive.
É possível ser homem.
É possível ser livre livre livre.

Manuel Alegre



«QUEM A TEM…»

Não hei-de morrer sem saber
qual a cor da liberdade.

Eu não posso senão ser
desta terra em que nasci.
Embora ao mundo pertença
e sempre a verdade vença,
qual será ser livre aqui,
não hei-de morrer sem saber.

Trocaram tudo em maldade,
é quase um crime viver.
Mas, embora escondam tudo
e me queiram cego e mudo,
não hei-de morrer sem saber
qual a cor da liberdade.

Jorge de Sena


35 d.a. (depois de abril)

e os manuscritos antigos falam de ti e das pessoas que tu viste
enquanto nascias entre flores, multidões e tinta de jornal


e viste a luz, numa gruta isolada entre a pedra e o mar
enquanto a dimensão da perspectiva era enigma e urgência
e tópico de uma terapia absoluta

e cresceste com adornos impressionistas, exigências compulsivas
e categorias de crise entre a camisa de luxo e o coração doente
e tens a emoção fácil, a norma rebuscada, o espelho relativo
e tens memória paradoxal em “part-time”
cravada na tua alma de medo

estás colado à condição de mudança milimétrica
entre as pernas da consciência e os limites eróticos
da censura tradicional

e preferes escondes o rosto, ficares preso em cartazes
do ontem que não vemos

e as coisas complicam-se quando te chamam:
- abril! abril! abril!

e tu calas a resposta, e tu morres no silêncio
quase estúpido e quase cobarde do sujeito anónimo

e é pena, porque, qualquer dia
ninguém te conhece


Nelson Ferraz


Um dia diferente

amanhã
quando nascer um hino de alegria
em todos os olhares
de todas as crianças

quando o meu sangue vermelho
e a minha boca vermelha
se transformarem

e quando amadurecerem os meus braços
as espigas dos meus dedoos
e os homens finalmente se encontrarem
e se chamarem de novo irmãos

e quando houver em cada pensamento
a raíz futura de um poema
e uma verdade pura em cada beijo
e em cada beijo uma canção de paz

amanhã
meu amor minha pátria meu poema
cantaremos a cada aurora
um dia diferente

Joaquim Pessoa

1 comentário:

Anónimo disse...

Vi, outra vez, o excelente documentário/filme que a SIC fez há anos e que repetiu mais uma vez, este ano.
Gostei, outra vez.
Está bem, feito, bem explicado, filmado nos próprios sítios.
Excelente.

Desta vez, ao ver, pensei na idade de todos os que estavam ali, nas ruas a fazer uma revolução.
Poucos teriam mais de 30 anos.
Os Capitães, os alferes, os cabos, soldados. Os que realmente deram o corpo ao manifesto. As vitimas, que felizmente, neste caso, não chegaram a ser.

............

Se fosse agora.
Chegava tudo atrasado porque a discoteca só fechava ás 7 da manhã. Enganavam-se no caminho de tão bêbados que todos estavam, e desatavam á porrada entre todos para saber quem ficava a mandar.

A democracia pode fazer mal a tanta gente.
Mas sou optimista. É uma questão de tempo. Continuamos a aprender.
Demora é um bocado de tempo a mais...
Não!!!?

Viva a liberdade. Sempre.
Apesar de tão poucos a saberem usar...

Pedro.