quarta-feira, 3 de junho de 2009

Compreensão e cívismo

Nestes últimos dias houve uma quantidade de facto a merecer notícias destacadas em tudo quanto é comunicação social. Como diria o outro, pleonasticamente falando, sucederam-se sucessivos sucessos. Alguns bem lamentáveis, outros nem tanto, ou assim assim. Não é desses que quero dar nota, mas sim daqueles que, apesar de relevantes, como se verá, merecem só uma pequena notícia perdida no interior dos jornais. Duas notas, que têm como origem uma entidade que deveria poupar-nos a tão tristes episódios, já que se diz defensora e pugnadora por valores morais, solidariedade, acompanhamento dos mais desfavorecidos, etc., etc., etc. Aí em baixo podereis, caros carantonhas, apreciar estes etc., e juntar-lhes outros, se quiserdes. Especialmente, insensibilidade. Sem outros comentários, os factos:

1º. - Numa freguesia minhota, L, mulher de 69 anos, na missa dominical, foi impedida de comungar, por se apresentar de touca na cabeça. A touca tinha uma explicação. A L tinha-lhe caído o cabelo pois estava a fazer quimioterapia por lhe haver sido diagnosticado cancro da mama. O padre (?) mandou-a "retirar e esperar pelo fim",para lhe explicar as condições em que deveria ir comungar, por L se ter "apresentado indignamente à comunhão". Nem sequer ouviu as explicações da senhora, que desgostosa, mas não desistindo da sua fé e devoção se afastou para outra paróquia.

2º. - Na passada sexta-feira o Parque da Cidade, no Porto, foi ocupado por milhares de jovens, num convívio da disciplina de Religião e Moral, organizado pela Diocese. Tudo bem, não fosse a falta de sentido cívico dos participantes e organizadores. No fim do convívio, segundo o JN, o Parque "transformou-se num gigantesco caixote de lixo". Desrespeito pelo meio ambiente e pelo uso de um local aprazível (sem estes vândalos) que é de todos. E conclui o JN "que talvez estes jovens, e quem os levou ao Parque, estejam precisados, mais do que de aulas de Religião e Moral, de aulas de Educação Cívica".
E eu concordo. Comentários para quê! A não ser, valha-lhes São Pancrácio.
E vou recorrer mais uma vez a Eugénio de Andrade:

A POESIA NÃO VAI

A poesia não vai à missa,
não obedece ao sino da paróquia,
prefere atiçar os seus cães
às pernas de deus e dos cobradores
de impostos.
Língua de fogo do não,
caminho estreito
e surdo da abdicação, a poesia
é uma espécie de animal
no escuro recusando a mão
que o chama.
Animal solitário, às vezes
irónico, às vezes amável,
quase sempre paciente e sem piedade.
A poesia adora
andar descalça nas areias do verão.

1 comentário:

Pedro disse...

É por estas e por outras que as Igrejas estão cada vez mais vazias.

E por aqui me fico, por agora, para não chocar os católicos carantonhas que por aqui passam.

Até porque é tarde.

Pedro.