terça-feira, 23 de junho de 2009

Eu toco a que sei...

A história que hoje vou trazer aqui, não fui buscá-la à arca do velho, embora a dita lá repouse há muito. Isto, porque a minha mãe, que foi quem me a contou, ainda a conta quando a ocasião se proporciona. É uma história que podemos incluir no capítulo das festas e romarias e que se passa entre os anos trinta e quarenta do século passado.

Conta a minha mãe que nessa altura não havendo ainda orquestras para animar bailaricos, estes aconteciam normalmente no largo da aldeia ou em qualquer terreiro onde a juventude se juntasse, e em que houvesse um instrumento musical, e alguém que o tocasse. Acontecia aparecer sempre por lá um simpático senhor, o Ti Cipriano, com o seu acordeão (nesse tempo seria talvez uma concertina) mas, infelizmente para a mocidade dançante, com um repertório escasso, que ia dando para animar a festa. Mas passado algum tempo da festança ter começado, já todos estavam cansados de dançar as mesmas modas, que sei iam repetindo de encontro para encontro. Então, as moças, que normalmente nestas coisas de bailaricos eram as mais interessadas e as mais atrevidotas (parece que ainda hoje é assim), chegavam-se ao Ti Cipriano e pediam:- "Ó Ti Cipriano, toque lá agora um tango". E o Ti Cipriano, consciente deas suas limitações, respondia:- "Ó meninas, ó meninas, eu toco a que sei, voces dançam a que querem". E o bailarico lá continuava sem zangas nem amuos, porque o que as moças queriam era rodopiar amparadas pelos braços dos moços.

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