quarta-feira, 3 de junho de 2009

A tradição já não é...


A tradição já não é o que era. Já sei, já sei que é uma tirada banal, vulgar, recorrente, de quem não sabe como começar o que tem para dizer. Mas naquilo de que quero falar é perfeitamente aplicável. Portanto...
Do que vos quero falar é da Feira do Livro. É ou não, verdade, que sempre que a feira era inaugurada, e mesmo durante, chovia, por vezes copiosamente? Veja-se o calor que tem feito! Lá se foi a tradição... Mesmo com este calorzinho a prenunciar um verão quente quanto baste, agora que a feira voltou às origens, à Avenida dos Aliados, merece ser visitada, para mais com horários compatíveis para quem trabalha. Passem por lá carantonhas, façam um esforçozito e comprem ao menos um livro. Eu já fiz a minha obrigação. E se gostarem de poesia, que é um dos gostos do carantonha-mor, fiquem com este pequeno poema de Eugénio de Andrade para vos aguçar o apetite:

O SAL DA LÍNGUA

Escuta, escuta: tenho ainda
uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo, não mudará
a vida de ninguém - mas quem
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido
da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como a chuvinha
que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco
mais. Palavras que te quero confiar.
Para que não se extinga o seu lume,
o seu lume breve.
Palavras que muito amei,
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua.

1 comentário:

Pedro disse...

Remetendo para um "post" anterior onde se falava da nova Praça de Liberdade/Avenida dos Aliados desenhada pelo Siza Vieira...

Ora, é ou não verdade que só assim, da maneira que está, sem jardins, arbustos e afins se pôde lá realizar a Feira do Livro.

Num espaço aberto, público. Onde toda a gente passa e mesmo a caminho do trabalho, pára, espreita e quem sabe até compra um livro.

Se continuasse no Palácio seria apenas para alguns, para os que já compram livros noutra FNAC qualquer.

Eis o que uma praça "open space" pode proporcionar à sua cidade.

Infelizmente é pouco provável que passe por lá. Quem sabe para o ano.
Espero é que a mantenham por lá e que sirva de exemplo para dar ao espaço a dignidade que merece. Com pessoas. Com vida.

Abraços aos Carantonhas.

Pedro.