quarta-feira, 23 de março de 2011

Uma história roubada

A história que, caros carantonhas, ireis ler, foi "roubada" há algum tempo e guardada para um qualquer momento em que não me apetecesse escrever. A sua autora é educadora de infância, e pelo que leio traz os seus meninos sempre com ela, guardados no coração, e vive no blog Búzio do Vento. Ah, e gosta muito de mar e é do Porto.Aí fica, com o meu obrigado, a história, sensível, comovente e ternurenta, como deve ser a Teresa.

Uma história de mar com asas

"Era uma praia. Pequena, com mar, gaivotas, areia, conchinhas na beirada… Até aqui a praia parecia não ter nada de especial, afinal todas as praias que conheço são assim. Mas esta garanto é a praia mais especial que conheço, vejo-a da minha varanda e sei tudo o que lá se passa. Bom, quase tudo…
Na minha praia, já sei, a praia não é só minha, mas eu gosto de chamá-la assim. Pensando bem, a varanda virada para a praia também não é só minha, mas talvez ela seja mais minha porque passo lá tempos infinitos a descobrir coisas nas coisas. É uma mania minha, e nisto de manias cada um tem as suas.
E foi da minha varanda que dá para a praia que fiquei a saber da história de uma gaivota e de um menino.
A gaivota vivia na praia. O menino vivia longe daquela praia, mas vá-se lá saber porquê um dia veio ver o mar e gostou tanto da praia que sempre que podia voltava. Já sei, o mar e a praia são iguais em todos os sítios do planeta, mas o menino também gostava mais daquele mar, do meu.
Um dia, estava o menino deitado na areia a ouvir o mar, quando lhe cai um pauzinho de madeira mesmo em cima do nariz! O menino levantou – se e deu de caras com o bico de uma gaivota. Nada assustado olhou-a bem, era uma gaivota muito branca com listinhas castanhas nas asas. Sem saber muito bem porquê o menino gostou da gaivota e a gaivota achou o menino tão especial que não foi nada difícil ficarem amigos. Eu não sei se as gaivotas falam a linguagem dos humanos, mas sei que há humanos que entendem as gaivotas. E eu juro que os ouvia a conversar e a rir, pareciam tão felizes! Contavam histórias um ao outro, voavam juntos, outras vezes ficavam ali a flutuar no imenso azul do mar ou a erguer sonhos na areia…
Depois o menino regressava à terra dos homens. Quando ele partia a gaivota ficava na areia sonhando-o e desejando que regressasse rápido.
E quando o menino voltava de novo à praia o coraçãozinho da gaivota ficava tão feliz e tremia tanto, que nem conseguia bater as asas direito.
O menino não vem à praia há algum tempo. Como sei? Vejo a gaivota sozinha na praia. Há dias até lhe vi nos olhos uma lagrimazinha de saudade, mas sei que vai esperar pelo menino mesmo que ele já não venha".

Esta história bonita leva-me a recomendar, a graúdos e miúdos, a leitura do conto A Menina do Mar, de Sophia de Mello Breyner Andresen

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