terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

ISMOS


Estava eu, há pouco, a procurar numa antologia de poesia de Jorge de Sena, um poema de que necessito para um trabalho, quando me deparei com este outro, de que já nem sequer me lembrava. Um poema escrito no ano 72 do séc. passado, mas digam-me lá carantonhas, se não está perfeitamente inserido na actualidade. Fica claro que o que abaixo se lê se aplica a todo e qualquer quadrante da política e da sociedade em geral.

«DEIXEM-SE DE FINGIR»

Deixem -se de fingir de heróis da esquerda,
com bancos e bancas de advogado, redacções,
editoriais, automóveis, bolsas e cátedras,
quintas herdadas, páginas literárias.
Deixem-se de uivar em defesa de ismos
que nenhum vos pertence ou a que pertenceis
a não ser para dançar a dança desnalgada
dos que não têm vergonha do povo português.
O único ismo em consonância com os arrotos
de bem comidos, e os rosnidos de instalados
naquilo que criticam disfarçando-se,
é o relismo - de reles. Nada mais.

Jorge de Sena, de "Conheço o sal", in Antologia 40 Anos de Servidão - Circulo de Poesia, Morais Editores

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