sábado, 6 de fevereiro de 2010

Prosa poética para acabar o dia

Hoje vamos acabar o dia com um texto poético de Eugénio de Andrade, porque me lembrei que a Fundação que tem o seu nome está em vias de ser extinta. O Porto "trata bem" os seus valores. Voltarei em breve ao assunto Fundação.

"O Porto é só uma certa maneira de me refugiar na tarde, forrar-me de silêncio e procurar trazer à tona algumas palavras, sem outro fito que não seja o de opor ao corpo espesso destes muros a inssurreição do olhar.
O Porto é só esta atenção empenhada em escutar os passos dos velhos, que a certas horas atravessam a rua para passarem os dias no café em frente, os olhos vazios, as lágrimas todas das crianças de S. Vitor correndo nos sulcos da sua melancolia.
O Porto é só a pequena praça onde há tantos anos aprendo metodicamente a ser árvore, aproximando-me cada vez mais da restolhada matinal dos pardais, esses velhacos que, por muito que se afastem, regressam sempre à minha vida.
Desentendido da cidade, olho na palma da mão os resíduos da juventude, e dessa paixão sem regra deixarei que uma pétala pouse aqui, por ser de cal."

Carantonhas, façam o favor de se portar mal e tenham um bom domingo.

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