domingo, 3 de maio de 2009

Dia da Mãe

Em Portugal comemorou-se hoje o dia da Mãe. Não sendo, bota-de-elástico ou conservador, já o deixei escrito no dia 8 de Dezembro passado, num outro post, para mim o Dia da Mãe é o dia 8 de Dezembro. Porque não compreendo a razão da mudança, desta, ou de outras, que de vez em quando a igreja católica resolve patrocinar. Sei que este dia não é comemorado em todos os países na mesma data. Mas em grande parte do mundo católico (p. ex., aqui ao lado, em Espanha) prevalece o dia 8 de Dezembro. No entanto não quero deixar passar a data em claro e aqui fica uma saudação a todas as mães e em particular à minha, nos seus bonitos e rijos 88 anos. Obrigado Mãe, por me teres trazido ao mundo. Para todas as outras, aquelas que ainda estão entre nós, e aquelas que já são uma terna saudade, obrigado pelo vosso papel.

Para terminar, um pequeno poema da poetisa angolana, Alda Lara.

TRAMPOLIM

Mãe:
Deixa-me saltar no trampolim…
Deixa-me ser como os outros,
Gritar,
Empurrar,
Saltar nos trampolins que há por aí!...
Mãe:
Não me prendas mais…
Já que não posso ser acrobata,
Serei palhaço
A fingir, que também
Sou capaz,
De dar saltos no espaço!...
… Mas ficar, não!
Deixa-me tentar…
Deixa-me saltar no trampolim!...

Alda Lara, angolana, nasceu em Benguela em 1930 e faleceu em 1962. Além de Angola estudou em Lisboa - onde viveu vários anos - no Liceu Maria Amélia Vaz de Carvalho. Estudou medicina em Lisboa e Coimbra, por cuja Universidade se formou. Mas Alda Lara era sobretudo conhecida como grande poetisa que foi. Não tem uma obra extensa e nunca publicou em vida. Deixou em testamento esse encargo ao marido.


E a propósito de testamento, não resisto a deixar aqui um belíssimo poema, precisamente o poema Testamento, que embora dos primeiros a ser escritos, é no entanto um verdadeiro testamento.

TESTAMENTO

À prostituta mais nova
do bairro mais velho e escuro,
deixo os meus brincos, lavrados
em cristal, límpido e puro...

E àquela virgem esquecida
rapariga sem ternura,
sonhando algures uma lenda,
deixo o meu vestido branco,
o meu vestido de noiva,
todo tecido de renda...

Este meu rosário antigo,
ofereço-o aquele amigo
que não acredita em Deus...

E os livros, rosários meus
das contas de outro sofrer,
são para os homens humildes,
que nunca souberam ler.

Quantos aos meus poemas loucos,
esses, que são de dor
sincera e desordenada...
esses, que são de esperança,
desesperada mas firme...
deixo-os a ti, meu Amor...

Para que, na paz da hora,
em que a minha alma venha
beijar de longe os teus olhos,
vás por essa noite fora...
com passos feitos de lua,
oferecê-los às crianças
que encontrares em cada rua...

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