sexta-feira, 15 de maio de 2009

São rosas, senhor!

Diz-se que Maio é o mês das rosas. Será mais, talvez, o mês das flores. Procurei e não encontrei nada que sustentasse essa afirmação. Foi também em Maio, segundo a lenda, que, no regaço de D.Isabel de Aragão, o pão se transformou em rosas, diante de El-Rei D. Dinis. Mas vamos acreditar que sim, que Maio é o mês das rosas, e por isso aqui deixo alguns poemas e um texto que nos falam, ou em que se fala de rosas. Que vos aproveitem.

FOI PARA TI QUE CRIEI AS ROSAS

Foi para ti que criei as rosas.
Foi para ti que lhes dei perfume.
Para ti rasguei ribeiros
e dei às romãs a cor do lume.

Foi para ti que pus no céu a lua
e o verde mais verde nos pinhais.
Foi para ti que deitei no chão
o corpo aberto como os animais

Eugénio de Andrade, «As mãos e os Frutos» in Poesia, Porto, Fundação Eugénio de Andrade, 2005, 2.ª ed.

CANTIGA

Flor verde, na botoeira,
Rosa verde - que magia!
A luz desmaia no verde
Da rosa da botoeira...
Rosa verde, poesia!

E o poeta traz a alma
Toda à mostra, pela rua,
Não sei o quê em o dia...
Anda na brisa um desmaio...
Um vago e fresco desmaio...
E a luz desmaia no verde
Da rosa da poesia.

Cristovam Pavia, Poesia


ROSA DE HIROXIMA

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexactas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioactiva
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atomica
Sem cor sem perfume
Sem rosa, sem nada

Vinicius de Moraes

POEMA PARA O MEU AMOR DOENTE

Hoje roubei todas as rosas dos jardins
e cheguei ao pé de ti de mãos vazias.

Eugénio de Andrade, Poesia, Porto,Fundação Eugénio de Andrade, 2005, 2.ª ed.

O PRINCIPE E A ROSA

[...] O principezinho foi ver outra vez as rosas.- Vós não sois nada parecidas com a minha rosa; ainda não sois nada, disse-lhes ele. Ninguém vos cativou, nem vós cativastes ninguém. Sois como era a minha raposa. Não passava de uma raposa igual a cem mil raposas. Mas fiz dela minha amiga e agora é única no mundo.E as rosas ficaram bastante aborrecidas.- Vós sois belas, mas vazias, disse-lhes mais. Ninguém vai morrer por vós. É certo que, quanto à minha rosa, qualquer vulgar transeunte julgará que ela se vos assemelha. Mas, sozinha, ela vale mais do que vós todas juntas, porque foi ela que eu reguei. Porque foi ela que pus numa redoma. Porque foi ela que abriguei com um biombo. Porque foi por causa dela que matei as lagartas (excepto duas ou três para as borboletas). Porque foi ela e só ela que ouvi lamentar-se ou gabar-se, ou mesmo, por vezes, calar-se. Porque é a minha rosa. [...]

Antoine de Saint-Exupéry, O Principezinho,Lisboa, Editorial Aster, Trad. de Alice Gomes, 4.ª ed., s/d

NOTA Algumas palavras v\ao sem acentos. Tambem nao ha tra;os, pontos, etc. porque o PC asneou. Humildes desculpas aos carantonhas.

1 comentário:

Anónimo disse...

Este excerto de "O Principezinho", é para mim, tão só, a melhor descrição de amizade de sempre.
Tão simples.
O que se pode dizer contando a história de um encontro de um miudo com uma raposa. Genial, pura e simplesmente.
Já agora, um outro excerto.

"(...)

- E o que é que é preciso fazer? - perguntou o principezinho.
- É preciso ter muita paciência. Primeiro, sentas-te um bocadinho afastado de mim, assim, em cima da relva. Eu olho para ti pelo canto do olho e tu não me dizes nada. A linguagem é uma fonte de mal entendidos. Mas todos os dias te podes sentar um bocadinho mais perto...
O principezinho voltou no dia seguinte.

(...)"

Pedro.