sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Poema para acabar o dia (com neve)


A neve chegou. Em força. De certo para ficar. E para falarmos dela. De certo para proporcinar bonitos postais. A neve, que para os poetas é também uma fonte de inspiração. E quando lá fora o termómetro marca 8º, para acabar o dia, aqui fica o conhecido poema de Augusto Gil, Balada da Neve.

BALADA DA NEVE

Batem leve, levemente,
Como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é certamente
E a chuva não bate assim.

É talvez a ventania;
Mas há pouco, há poucochinho,
Nem uma agulha bulia
Na quieta melancolia
Dos pinheiros do caminho...,

Quem bate assim levemente,
Com tão estranha leveza
Que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
Nem é vento, com certeza.

Fui ver. A neve caía
Do azul cinzento do céu,
Branca e leve, branca e fria...
- Há quanto tempo a não via!
E que saudade, Deus meu!

Olho-a através da vidraça
Pôs tudo da cor do linho.
Pasa gente e, quando passa,
Os passos imprime e traça
Na brancura do caminho...

Fico olhando esses sinais
Da pobre gente que avança
E noto, por entre os mais,
Os traços miniaturais
Duns pèzitos de criança...

E descalcinhos, doridos...
A neve deixa inda vê-los
Primeiro bem definidos,
- Depois em sulcos compridos,
Porque não podia erguê-los!...

Que quem já é pecador
Sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
Porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...

E uma infinita tristeza
Uma funda turbação
Entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na natureza...
- E cai no meu coração.


E para acabar, em jeito de desafio, deixo uma sugestão: tentem ler o poema (vá lá, só a primeira estrofe, para não se tornar muito dificil) só com vogais, sem consoantes. Brrr, tá frio!

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